Ponto de meio dia, na esquina da praça principal. Um homem
desconhecido, pai de mais de um filho, que vendia alianças, pulseiras e afins,
gravadas na hora com sua maquininha. Me chamou a atenção quando dirigiu a
palavra a mim, perguntando se podia gravar meu nome no violão que eu carregava.
Sem pensar proferi três palavras: “Não, não, obrigado.” Mas
ele não demorou a insistir mais uma vez: “Deixa eu gravar, não vou cobrar,
apenas pra ti lembrar de mim.” Então resolvi deixar, um pouco desgostoso, sem
pensar na quão grandiosa pessoa que acabara de conhecer. Abri a capa, tirei meu
violão para fora e entreguei ao homem que se propusera a gravar.
Me atirou um bloquinho cheio de nomes e números e uma caneta
azul para eu escrever meu nome. Quando peguei a caneta, o homem começou a
riscar o violão, logo pensei que ele iria riscar qualquer merda só pra estragar
meu precioso instrumento. Mas não, o homem havia escrito “100%” e ao ler meu
nome, proferiu certas palavras: “Mesmo nome do meu filho mais velho.” E o
escreveu.
Instantes após ter escrito, apertou minha mão, e me desejou
boa sorte, disse que morava em
Porto Alegre e que gostava muito de São Sepé. Eu estava
acompanhado, havia um amigo junto e, por educação, ele pegou alguns níqueis no
bolso e dirigiu-se ao homem, no mesmo instante o mesmo rejeitou. “Não quero
dinheiro, muito obrigado, isso é uma recordação que ele vai ter.”
Ao apertar novamente a mão do sujeito e agradecer mais uma
vez, percebi que suas mãos tinham duas cores - talvez um vitiligo decorrente a um imenso sofrimento, sua humildade era de algum outro
lugar e não era um mercenário qualquer, fazia as coisas porque gostava, e não para
ter todo o dinheiro do mundo. Perguntei qual era seu nome, prontamente
respondeu: “Meu nome é Chaves, boa tarde, Júnior, tenha um bom dia.” Agradeci e
desejei o mesmo.
Passei o dia inteiro pensando no que acontecera e, com toda
a certeza, nunca irei esquecer. Tenha uma ótima vida, humilde das mãos
bicolores e cigarro filtro branco.
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