quarta-feira, 11 de abril de 2012

Mãos bicolores, cigarro filtro branco e uma humildade inimaginável.


Ponto de meio dia, na esquina da praça principal. Um homem desconhecido, pai de mais de um filho, que vendia alianças, pulseiras e afins, gravadas na hora com sua maquininha. Me chamou a atenção quando dirigiu a palavra a mim, perguntando se podia gravar meu nome no violão que eu carregava.

Sem pensar proferi três palavras: “Não, não, obrigado.” Mas ele não demorou a insistir mais uma vez: “Deixa eu gravar, não vou cobrar, apenas pra ti lembrar de mim.” Então resolvi deixar, um pouco desgostoso, sem pensar na quão grandiosa pessoa que acabara de conhecer. Abri a capa, tirei meu violão para fora e entreguei ao homem que se propusera a gravar.

Me atirou um bloquinho cheio de nomes e números e uma caneta azul para eu escrever meu nome. Quando peguei a caneta, o homem começou a riscar o violão, logo pensei que ele iria riscar qualquer merda só pra estragar meu precioso instrumento. Mas não, o homem havia escrito “100%” e ao ler meu nome, proferiu certas palavras: “Mesmo nome do meu filho mais velho.” E o escreveu.

Instantes após ter escrito, apertou minha mão, e me desejou boa sorte, disse que morava em Porto Alegre e que gostava muito de São Sepé. Eu estava acompanhado, havia um amigo junto e, por educação, ele pegou alguns níqueis no bolso e dirigiu-se ao homem, no mesmo instante o mesmo rejeitou. “Não quero dinheiro, muito obrigado, isso é uma recordação que ele vai ter.”

Ao apertar novamente a mão do sujeito e agradecer mais uma vez, percebi que suas mãos tinham duas cores - talvez um vitiligo decorrente a um imenso sofrimento, sua humildade era de algum outro lugar e não era um mercenário qualquer, fazia as coisas porque gostava, e não para ter todo o dinheiro do mundo. Perguntei qual era seu nome, prontamente respondeu: “Meu nome é Chaves, boa tarde, Júnior, tenha um bom dia.” Agradeci e desejei o mesmo.

Passei o dia inteiro pensando no que acontecera e, com toda a certeza, nunca irei esquecer. Tenha uma ótima vida, humilde das mãos bicolores e cigarro filtro branco.

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